quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O bandalho

Eu quando falo aqui do F. não fico contente de o tratar por bandalho. Eu ficava contente se conseguisse falar dele, sem rancor. Quem me conhece sabe que eu não sou assim. Eu gosto de falar das coisas de forma positiva. Quem me dera a mim falar dele como: uma pessoa de quem eu gostei muito, pela qual me apaixonei, que ele não se apaixonou por mim, que não gostou de mim, mas que me respeitou tanto que não consigo ter mágoa, que foi uma pessoa que me abanou as estruturas e que por isso tem um lugar especial na minha vida. Mas eu não consigo. Eu não consigo perdoar a falta de respeito que ele teve para comigo, sem necessidade nenhuma. Eu considero-me suficientemente inteligente para entender que nem toda a gente pode e tem que gostar de nós. Bastava ter-me dito isto, Não, ele optou pelo o que os sem carácter fazem, o que os "não os têm no sítio fazem" fazem, pelo o que os covardes fazem, os sem coluna vertebral fazem: emprateleirou-me, deixou-me em banho maria para ver no que dava.
Eu gostava de vos contar que ele foi bondoso, que ele já foi meu amigo, que sonhava com ele todos os dias,que me ri muito com ele, que o adorei, que tem talvez o melhor abraço do mundo, que tem uma voz sexy, que me abalou toda, que me mexeu na alma como já ninguém fazia há muitos anos, que já foi sensível, que me fazia rir e chorar de emoção, que eu me levantava de madrugada só para falar com ele no chão da casa de banho, que se preocupava com o próximo, que por vezes tinha rebates de consciência da vida ocidentalizada que levava, que tem paixão por Angola. Gostava de vos dizer que tremia quando via o nome dele no meu telefone, gostava de vos dizer que nunca ninguém me escreveu coisas que ele escreveu, gostava de vos dizer que tenho 3 músicas com ele e que quando as oiço choro, gostava de vos dizer que ouvimos uma banda de música na Ribeira que tocava mal como o raio, gostava de vos dizer que o F. insistiu em ir ver quanto tinham ganho naquela tarde e quando lá chegamos eles fecharam a caixa, gostava de vos dizer que fomos a uma loja de artesanato, num dia frio de Agosto que só há no Porto, e que ele me abraçou eu tinha as costas quentes e ele as mãos geladas e me soube bem. Gostava de vos contar que ele pára em todos os sítios para tomar café, gostava de vos dizer que ele é curioso e faz muitas perguntas como um jornalista. Gostava de vos dizer que estivemos para andar de eléctrico mas não andamos, gostava que soubessem que fui ter com ele a Coimbra, gostava de vos dizer que pomos (ou púnhamos) o prefixo por antes dos nomes das localidades. Gostava de vos dizer que há um senhor na Ribeira que trata a dona do restaurante por mãezinha e que me pergunta se quero adoçante. Gostava de vos contar que digo muitas vezes: "tu nem imaginas..." e que foi o F. que me alertou para isso; gostava que soubessem que nós não gostamos de carne e não comemos sobremesa; gostava que vocês soubessem que passávamos horas ao telefone só a dizer disparates; gostava que vocês soubessem que eu lhe fiz um livro com alguns momentos nossos, fotografias, poemas e ele parece não ter gostado; gostava que vocês soubessem que ele ama bailado e faz kms para ver; gostava que soubessem que come gomas como se não houvesse amanhã e fica com dores de barriga; gostava que soubessem que ele adora cinema; gostava que vocês soubessem que ele gostava de dar aulas; gostava que soubessem que durante uns tempos trabalhou num bar; que tem um blogue que é uma seca que só fala de política; gostava que vocês soubessem que ele gostava que eu fosse presidente da junta; que gosta de sopa de coentros e de arroz preto, gostava que soubessem tanta coisa boa dele...
Eu gostava de vos dizer isto tudo, mas não consigo. Porque os últimos tempos apagaram tudo o resto. Era tão fácil, era só ter dito a verdade. Nunca aqui contei, mas fiquei amiga de quase todos os meus ex´s. Mas atenção, que o F. diz à boca cheia que nunca me foi nada. Lá deve ter as suas razões, nem discuto. Mas tenho pena, todos os dias penso nele. Todos. Não o posso dizer às minhas amigas porque elas odeiam-no e discutem comigo por isso. Nem podem ouvir falar dele. Mas digo aqui baixinho. Já não gosto dele como gostava, já não estou apaixonada (mau era, o carácter para mim é tudo), mas penso nele. Penso nele todos os dias, não todo o dia mas todos os dias. Tenho saudades do que foi, até à minha chegada do Algarve, de mais nada. Nunca mais o vou ver, nunca mais lhe vou falar, mas ainda gosto dele, Lá no fundo fundo tão fundo que um dia vai deixar de se ver.
Também por isto tudo que aqui escrevi agora num impulso, decidi afastar-me do vizinho.

10 comentários:

R.L. disse...

farta de bandalhos estou eu. porra.

Jade disse...

Pois eu percebo isto, porque já passei pelo mesmo. eu costumo dizer que até respeito os sacanas, pelo menos aqueles que têm a coragem de se assumir como tal sem medos nem panos quentes. O que não suporto são so que se armam em bons moços, que criam expectativas para um dia nos dizerem que nós é que percebemos tudo mal, que nunca nos prometeu nada e que nós é que fantasiamos...p'ro inferno com esses!!!!

Anónimo disse...

Rita, não tenho nenhum tipo de "autoridade" para lhe dizer isto, porque a Rita já viveu com toda a certeza muitíssimo mais do que eu e com certeza que sabe da vida de uma forma que eu estou longe de saber mas se calhar faz mal em afastar-se de outras pessoas por causa de tudo o que essa pessoa lhe causou. Como a Rita mesma diz, se ficou amiga de todos os seus ex é porque encontrou boas pessoas ao longo da sua vida. Uma má pessoa aparece sempre, sempre sempre, seja em que campo da vida for. E não deve ser por causa de uma má pessoa que vai pôr em causa todas as outras boas pessoas que possam eventualmente querer fazer parte da sua vida. Cautelinha é sempre boa, uma boa dose de desconfiança e de pé atrás também. Acho que faz muito bem em dar tempo ao tempo, mas não deixe passar oportunidades por medo.

(desculpe esta opinião tão extensa sobre a sua vida, sem sequer a conhecer)

C disse...

não são todos iguais.

joana vasconcelos disse...

conheço mais ou menos a história. Se bem que eu tive menos história para contar. Sei como dói.

Isabel disse...

Não percebi, ele não gostou do livro que fizeste com os vossos momentos? Só isso já diz muito sobre o fulano.
Eu também acho que eles não são todos iguais. (E também como gomas como se não houvesse amanhã, pronto sou parecida ao bandalho).

mjoaob disse...

Ohhh...até deixei cair uma lágrima. Acredita que um dia vai passar e vais perceber o porquê de tudo isto. Eu acredito nisso para mim. Bjinho gde

Beta disse...

Se me permites a minha opinião Rita, acho que fizeste bem em "abrandar" com o vizinho! Acalma e arruma o teu coração e a tua cabeça, deita tudo cá para fora, o bom e o mau, para que possas depois ver com mais clareza! Acho também que não tens que te afastar, mas ser prudente!
Bj :)

fofinha disse...

Olá! Não quero parecer intrometida, mas queria dizer-lhe aquilo que provavelmente já ouviu mil vezes: Isso passa. É possível ultrapassar. Sofra tudo o que tem por sofrer e, um dia, dará o impulso para cima e volta a sorrir e a confiar.
Sim, é experiência própria. Boa sorte!;)
Ana

Heidi disse...

É tramado, quando o homem que gostas e pensas que é boa pessoa e que nunca fará nada voluntariamente para te magoar... te falta ao respeito e te põe na prateleira!